Um estudo inovador publicado na Nature revela um mecanismo físico-químico que descreve como a Amazônia influencia a formação das chuvas e, consequentemente, contribui para a mitigação de mudanças climáticas, como o aquecimento global.

O que é isopreno e qual sua função?
A pesquisa, realizada por um grupo internacional de cientistas, concentrou-se no isopreno, um gás emitido pela vegetação amazônica, especialmente por meio de seu metabolismo.
Durante o dia, o isopreno é liberado pelas árvores, e a nova descoberta revelou que, durante a noite, tempestades tropicais muito recorrentes no bioma da Amazônia impulsionam o transporte do isopreno para a tropopausa, a camada atmosférica situada entre 8 e 15 km de altitude.
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Sendo assim, as reações químicas resultantes da interação gerada por descargas elétricas entre o isopreno com os óxidos de nitrogênio resultam na formação de nanopartículas de aerossóis, compostos essenciais para a formação de nuvens.
Tais partículas geradas em altitudes elevadas são transportadas por longas distâncias e atuam como núcleos de condensação de nuvens, influenciando diretamente o ciclo hidrológico e o clima global.
Com disso, a formação de aerossóis orgânicos nitrogenados a partir dessa interação é um processo fundamental para a manutenção das condições climáticas, e sua compreensão tem implicações diretas na melhoria de modelos climáticos e previsões de precipitação, especialmente nas regiões dos trópicos.
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Desmatamento e Mudanças climáticas
Um ponto crítico abordado pelos pesquisadores é o impacto do desmatamento da Amazônia sobre esse sistema.
Conforme Paulo Artaxo, um dos coautores do estudo, a substituição da vegetação nativa por pastagens ou cultivos de soja compromete a produção de isopreno e, consequentemente, a formação das nanopartículas de aerossóis, resultando em uma “realimentação negativa” no sistema climático, já que a diminuição da evapotranspiração e a redução na produção de partículas comprometem a formação de nuvens e a precipitação.
Segundo um levantamento do MapBiomas, entre 1985 e 2023, a área de agropecuária e pastagem na Amazônia cresceu mais de 363%, ocupando 14% da floresta. Assim, esse processo de desmatamento acelerado está diretamente relacionado à diminuição da capacidade da floresta de regular o clima, afetando a precipitação e intensificação das mudanças climáticas, como aumento do aquecimento global.
A pesquisa também revelou que as condições de formação das nanopartículas são maiores na parte matinal, quando o sol começa a agir sobre os compostos presentes na alta atmosfera.
O Futuro do Clima
Os avanços proporcionados por este estudo abrem novas expectativas para a previsão e modelagem climática, com a compreensão mais precisa de como as emissões da Amazônia influenciam a formação de nuvens e a precipitação, a fim de aprimorar os modelos climáticos para melhor refletir as interações complexas entre a biosfera, a atmosfera e o clima global.
Esses modelos são ferramentas essenciais para o planejamento de estratégias de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.
Além disso, a pesquisa destaca a importância da preservação na Amazônia, pois alterações nesse equilíbrio, como o desmatamento e as mudanças climáticas, podem gerar efeitos inesperados que ainda não foram completamente compreendidos.
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Portanto, a preservação da floresta e a compreensão desses processos são fundamentais para mitigar os impactos das mudanças climáticas e proteger o equilíbrio ambiental global.
Relação com o Projeto Mejuruá
Iniciativas como o Projeto Mejuruá da BR ARBO também apontam o potencial da conservação florestal amazônica para atingirem as metas sustentáveis, sendo considerado um projeto de viés ambiental.
Projetos como o Mejuruá contribuem para o mercado de carbono global ao preservar ecossistemas, beneficiando tanto o meio ambiente quanto a economia local, alinhando-se com a perspectiva de transição para uma economia mais sustentável.
Ana Carolina Turessi